quinta-feira, 2 de abril de 2009

Correspondência

Querido,

Sinto saudades da época em que nos víamos todos os finais de semana,
E que saiamos por ai, a cantar sonetos de uma vida feliz.
A cada dia era um novo lugar,
Da praia pro cinema, do cinema pro jantar. Que era simples. Mas tinha sabor.
Sabor de vida.
Lembra amor?
Lembra dos nossos beijos escondidos e tímidos?
Dados a porta de casa.
Os olhos do pai a nos seguir.
O pai implicava; você morria de medo.
Mas aproveito para te revelar:
Ele gostava da sua presença, sua influencia e sua aparência.
Considerava uma boa companhia a sua filha mais nova.
As meninas do bairro, não conseguiam entender,
‘Como pode ela... logo ela...atrair um rapaz tão elegante?’
Ate hoje quando abro algum livro antigo, encontro pétalas de muitas das rosas que você um dia já me deu.
Era o nosso mundo cor de rosa, a nossa primavera eterna.
E qualquer lugar ficava lindo do seu lado.

(Parou por alguns instantes, ficou pensativa com um sorriso leve na face. Continuou...).

Encontrei na semana passada, arrumando a gaveta da estante do corredor, uma foto nossa. Era uma foto daquele dia em que pegamos uma chuva forte assim que chegamos a Petrópolis.
Muito tempo depois você ainda dava gargalhadas do tombo que eu levei caindo naquela poça de água.
Ficava zangadíssima.
Mas confesso que era realmente divertido lembrar.

Você já se perguntou o motivo da carta, imagino.
Arrisco dizer que quando viu meu nome no envelope, ameaçou rasgar.
Mas sempre foi curioso. E leu. E chegou ate o final.
Obrigada.

Escrevo pra dizer que sinto saudades. De você, e de nós.
Que já perdoei ter me abandonado.
Que sofri. Mas superei.
Que admito todas as qualidades maternais do seu novo amor.
Que não odeio mais o fato de você roer as unhas.
Mas que não fique me esperando chegar a casa escondido na esquina.
Sempre soube que estava lá.
Você sempre esteve lá.



Carinhos,
Sophia.

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