
sexta-feira, 26 de junho de 2009
quarta-feira, 24 de junho de 2009
As muito feias que me perdoem
Mas beleza é fundamental. É preciso
Que haja qualquer coisa de flor em tudo isso
Qualquer coisa de dança, qualquer coisa de haute couture
Em tudo isso (ou então
Que a mulher se socialize elegantemente em azul, como na República Popular Chinesa).
Não há meio-termo possível. É preciso
Que tudo isso seja belo. É preciso que súbito
Tenha-se a impressão de ver uma garça apenas pousada e que um rosto
Adquira de vez em quando essa cor só encontrável no terceiro minuto da aurora.
É preciso que tudo isso seja sem ser, mas que se reflita e desabroche
No olhar dos homens. É preciso, é absolutamente preciso
Que seja tudo belo e inesperado. É preciso que umas pálpebras cerradas
Lembrem um verso de Éluard e que se acaricie nuns braços
Alguma coisa além da carne: que se os toque
Como no âmbar de uma tarde. Ah, deixai-me dizer-vos
Que é preciso que a mulher que ali está como a corola ante o pássaro
Seja bela ou tenha pelo menos um rosto que lembre um templo e
Seja leve como um resto de nuvem: mas que seja uma nuvem
Com olhos e nádegas. Nádegas é importantíssimo. Olhos então
Nem se fala, que olhe com certa maldade inocente. Uma boca
Fresca (nunca úmida!) é também de extrema pertinência.
É preciso que as extremidades sejam magras; que uns ossos
Despontem, sobretudo a rótula no cruzar das pernas, e as pontas pélvicas
No enlaçar de uma cintura semovente.
Gravíssimo é porém o problema das saboneteiras: uma mulher sem saboneteiras
É como um rio sem pontes. Indispensável.
Que haja uma hipótese de barriguinha, e em seguida
A mulher se alteie em cálice, e que seus seios
Sejam uma expressão greco-romana, mas que gótica ou barroca
E possam iluminar o escuro com uma capacidade mínima de cinco velas.
Sobremodo pertinaz é estarem a caveira e a coluna vertebral
Levemente à mostra; e que exista um grande latifúndio dorsal!
Os membros que terminem como hastes, mas que haja um certo volume de coxas
E que elas sejam lisas, lisas como a pétala e cobertas de suavíssima penugem
No entanto, sensível à carícia em sentido contrário. É aconselhável na axila uma doce
relva com aroma próprio
Apenas sensível (um mínimo de produtos farmacêuticos!).
Preferíveis sem dúvida os pescoços longos
De forma que a cabeça dê por vezes a impressão
De nada ter a ver com o corpo, e a mulher não lembre
Flores sem mistério. Pés e mãos devem conter elementos góticos
Discretos. A pele deve ser frescas nas mãos, nos braços, no dorso, e na face
Mas que as concavidades e reentrâncias tenham uma temperatura nunca inferior
A 37 graus centígrados, podendo eventualmente provocar queimaduras
Do primeiro grau. Os olhos, que sejam de preferência grandes
E de rotação pelo menos tão lenta quanto a da Terra; e
Que se coloquem sempre para lá de um invisível muro de paixão
Que é preciso ultrapassar. Que a mulher seja em princípio alta
Ou, caso baixa, que tenha a atitude mental dos altos píncaros.
Ah, que a mulher de sempre a impressão de que se fechar os olhos
Ao abri-los ela não estará mais presente
Com seu sorriso e suas tramas. Que ela surja, não venha; parta, não vá
E que possua uma certa capacidade de emudecer subitamente e nos fazer beber
O fel da dúvida. Oh, sobretudo
Que ela não perca nunca, não importa em que mundo
Não importa em que circunstâncias, a sua infinita volubilidade
De pássaro; e que acariciada no fundo de si mesma
Transforme-se em fera sem perder sua graça de ave; e que exale sempre
O impossível perfume; e destile sempre
O embriagante mel; e cante sempre o inaudível canto
Da sua combustão; e não deixe de ser nunca a eterna dançarina
Do efêmero; e em sua incalculável imperfeição
Constitua a coisa mais bela e mais perfeita de toda a criação imunerável.
Vinícius de Moraes
O poema machista mais lindo do mundo!
Mas beleza é fundamental. É preciso
Que haja qualquer coisa de flor em tudo isso
Qualquer coisa de dança, qualquer coisa de haute couture
Em tudo isso (ou então
Que a mulher se socialize elegantemente em azul, como na República Popular Chinesa).
Não há meio-termo possível. É preciso
Que tudo isso seja belo. É preciso que súbito
Tenha-se a impressão de ver uma garça apenas pousada e que um rosto
Adquira de vez em quando essa cor só encontrável no terceiro minuto da aurora.
É preciso que tudo isso seja sem ser, mas que se reflita e desabroche
No olhar dos homens. É preciso, é absolutamente preciso
Que seja tudo belo e inesperado. É preciso que umas pálpebras cerradas
Lembrem um verso de Éluard e que se acaricie nuns braços
Alguma coisa além da carne: que se os toque
Como no âmbar de uma tarde. Ah, deixai-me dizer-vos
Que é preciso que a mulher que ali está como a corola ante o pássaro
Seja bela ou tenha pelo menos um rosto que lembre um templo e
Seja leve como um resto de nuvem: mas que seja uma nuvem
Com olhos e nádegas. Nádegas é importantíssimo. Olhos então
Nem se fala, que olhe com certa maldade inocente. Uma boca
Fresca (nunca úmida!) é também de extrema pertinência.
É preciso que as extremidades sejam magras; que uns ossos
Despontem, sobretudo a rótula no cruzar das pernas, e as pontas pélvicas
No enlaçar de uma cintura semovente.
Gravíssimo é porém o problema das saboneteiras: uma mulher sem saboneteiras
É como um rio sem pontes. Indispensável.
Que haja uma hipótese de barriguinha, e em seguida
A mulher se alteie em cálice, e que seus seios
Sejam uma expressão greco-romana, mas que gótica ou barroca
E possam iluminar o escuro com uma capacidade mínima de cinco velas.
Sobremodo pertinaz é estarem a caveira e a coluna vertebral
Levemente à mostra; e que exista um grande latifúndio dorsal!
Os membros que terminem como hastes, mas que haja um certo volume de coxas
E que elas sejam lisas, lisas como a pétala e cobertas de suavíssima penugem
No entanto, sensível à carícia em sentido contrário. É aconselhável na axila uma doce
relva com aroma próprio
Apenas sensível (um mínimo de produtos farmacêuticos!).
Preferíveis sem dúvida os pescoços longos
De forma que a cabeça dê por vezes a impressão
De nada ter a ver com o corpo, e a mulher não lembre
Flores sem mistério. Pés e mãos devem conter elementos góticos
Discretos. A pele deve ser frescas nas mãos, nos braços, no dorso, e na face
Mas que as concavidades e reentrâncias tenham uma temperatura nunca inferior
A 37 graus centígrados, podendo eventualmente provocar queimaduras
Do primeiro grau. Os olhos, que sejam de preferência grandes
E de rotação pelo menos tão lenta quanto a da Terra; e
Que se coloquem sempre para lá de um invisível muro de paixão
Que é preciso ultrapassar. Que a mulher seja em princípio alta
Ou, caso baixa, que tenha a atitude mental dos altos píncaros.
Ah, que a mulher de sempre a impressão de que se fechar os olhos
Ao abri-los ela não estará mais presente
Com seu sorriso e suas tramas. Que ela surja, não venha; parta, não vá
E que possua uma certa capacidade de emudecer subitamente e nos fazer beber
O fel da dúvida. Oh, sobretudo
Que ela não perca nunca, não importa em que mundo
Não importa em que circunstâncias, a sua infinita volubilidade
De pássaro; e que acariciada no fundo de si mesma
Transforme-se em fera sem perder sua graça de ave; e que exale sempre
O impossível perfume; e destile sempre
O embriagante mel; e cante sempre o inaudível canto
Da sua combustão; e não deixe de ser nunca a eterna dançarina
Do efêmero; e em sua incalculável imperfeição
Constitua a coisa mais bela e mais perfeita de toda a criação imunerável.
Vinícius de Moraes
O poema machista mais lindo do mundo!
segunda-feira, 8 de junho de 2009
Horizontes
Quando for dia lindo,
Sorria.
Abra as cortinas pra vida.
E veja as borboletas que pousam
Na sua janela.
Permita que suas cores
Alegrem seu coração.
Sinta frio e sinta amor.
Coma um chocolate.
E volte a fazer seu trabalho de Marketing.
Poema antiestético de segunda.
Sorria.
Abra as cortinas pra vida.
E veja as borboletas que pousam
Na sua janela.
Permita que suas cores
Alegrem seu coração.
Sinta frio e sinta amor.
Coma um chocolate.
E volte a fazer seu trabalho de Marketing.
Poema antiestético de segunda.
domingo, 7 de junho de 2009
O Cotidiano.
Seu Zé.
Seu Zé, típico empregado do mês. Todo mês.
Acorda todo santo dia as 4 e meia. Pega no batente as 6. E mora longe. Entra cedo na fila no ônibus.
Mas antes disso, quando acorda, fica ainda alguns minutos olhando sua esposa, linda, que dorme ao seu lado. Dá-lhe um beijo na testa, e se levanta pro dia.
Come é pão com manteiga, as sextas tem sempre ovo frito.Mas o café que não falta. Isso não .. dia nenhum!
Ai ele come, e se veste. Nem sempre toma banho, diz que é cedo, faz frio, e não quer despertar. Sua roupa ta sempre passada. A patroa é cuidadosa.
Ai ele sai, anda 10 minutos, entra na fila do ônibus, pega o ônibus, e senta.
Juntou dinheiro e comprou seu mp3. Agora ele faz o caminho escutando música. E as dicas do trânsito. E tira uns cochilos. Diz ele que pra acordar.
Antes das 6 ele chega no serviço.
Seu Zé vende ‘Meia Hora’ nas barcas. Anda pra La e pra, segurando jornal, e não fica tonto. Seu
Zé não esbarra nas pessoas. Seu Zé não tropeça. Nunca um jornal caiu da sua mão.
Habilidoso esse Seu Zé.
Funcionário do mês. Exemplar.
--
Senhorita Ana
Quando ela nasceu, ninguém sabia que nome dar. Na falta de criatividade, Ana resolveram chamar.
Nome decidido, Ana virou enfermeira.
Desde pequena ela amarrava as bonecas com panos. O pai dizia que pareciam múmias. E a mãe beliscava ele.
Ana foi uma criança feliz.
Sentiu muito quando o pai morreu. E amargurou-se na vida.
Nunca foi casada. Alguns poucos tristes casos, sem sucesso.
Todos os domingos, à tarde, ela visita a casa da mãe. Que é cheia de migalhas de porcelana. Uma bagunça.
Come bolo de fubá, toma café, e vai embora.
A mãe reclama que ela nunca vai na missa. E ela diz que perdeu o encanto.
A única coisa que ela considera ser de valor é seu trabalho, de enfermeira, e seu gato, Leopoldo.
Acorda às 7e meia, todos os dias. E enfrenta o trânsito da ponte.
É enfermeira numa casa de idosos. Lá se torna simpática e meiga. Conhece todos pelo nome.
Ana se empurra pra vida. E vai levando ...
Seu Zé, típico empregado do mês. Todo mês.
Acorda todo santo dia as 4 e meia. Pega no batente as 6. E mora longe. Entra cedo na fila no ônibus.
Mas antes disso, quando acorda, fica ainda alguns minutos olhando sua esposa, linda, que dorme ao seu lado. Dá-lhe um beijo na testa, e se levanta pro dia.
Come é pão com manteiga, as sextas tem sempre ovo frito.Mas o café que não falta. Isso não .. dia nenhum!
Ai ele come, e se veste. Nem sempre toma banho, diz que é cedo, faz frio, e não quer despertar. Sua roupa ta sempre passada. A patroa é cuidadosa.
Ai ele sai, anda 10 minutos, entra na fila do ônibus, pega o ônibus, e senta.
Juntou dinheiro e comprou seu mp3. Agora ele faz o caminho escutando música. E as dicas do trânsito. E tira uns cochilos. Diz ele que pra acordar.
Antes das 6 ele chega no serviço.
Seu Zé vende ‘Meia Hora’ nas barcas. Anda pra La e pra, segurando jornal, e não fica tonto. Seu
Zé não esbarra nas pessoas. Seu Zé não tropeça. Nunca um jornal caiu da sua mão.
Habilidoso esse Seu Zé.
Funcionário do mês. Exemplar.
--
Senhorita Ana
Quando ela nasceu, ninguém sabia que nome dar. Na falta de criatividade, Ana resolveram chamar.
Nome decidido, Ana virou enfermeira.
Desde pequena ela amarrava as bonecas com panos. O pai dizia que pareciam múmias. E a mãe beliscava ele.
Ana foi uma criança feliz.
Sentiu muito quando o pai morreu. E amargurou-se na vida.
Nunca foi casada. Alguns poucos tristes casos, sem sucesso.
Todos os domingos, à tarde, ela visita a casa da mãe. Que é cheia de migalhas de porcelana. Uma bagunça.
Come bolo de fubá, toma café, e vai embora.
A mãe reclama que ela nunca vai na missa. E ela diz que perdeu o encanto.
A única coisa que ela considera ser de valor é seu trabalho, de enfermeira, e seu gato, Leopoldo.
Acorda às 7e meia, todos os dias. E enfrenta o trânsito da ponte.
É enfermeira numa casa de idosos. Lá se torna simpática e meiga. Conhece todos pelo nome.
Ana se empurra pra vida. E vai levando ...
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